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Notícia
publicado em 08/07/2025
Entidade vira alvo da Polícia Federal: INTS Subcontrata Empresas Ligadas a Políticos para Atuar em Serviços de Saúde no Estado de São Paulo
nstituto recebe mais de R$ 100 milhões por mês de prefeituras paulistas e mantém contratos com empresas de agentes públicos e condenados por corrupção.
O Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), organização social responsável pela gestão de hospitais e unidades de saúde em ao menos cinco cidades do estado de São Paulo, incluindo a capital, tem subcontratado empresas pertencentes a políticos, agentes públicos e até pessoas condenadas por corrupção. A rede de contratos levanta suspeitas de conflito de interesses, uso indevido de recursos públicos e favorecimento político.
Atualmente, o INTS recebe R$ 113 milhões mensais das prefeituras de São Paulo, Bertioga, Suzano, Mogi das Cruzes e Itaquaquecetuba. Com esse valor, o instituto é responsável pela administração de três hospitais, dois serviços do Samu e 73 unidades de saúde, como UPAs e UBSs.
Segundo apuração do portal Metrópoles, parte significativa desses serviços é repassada a empresas “quarteirizadas” ligadas a autoridades públicas. A lista inclui nomes como Luiz Carlos Zamarco (atual secretário municipal da Saúde de São Paulo), Francisco Balbino Dias (secretário de Segurança de Suzano), o ex-secretário de Saúde de Mogi das Cruzes, Francisco Bezerra, e o ex-prefeito de Suzano, Estevam Galvão (já falecido).
Na capital paulista, o INTS atua por meio de um contrato emergencial, firmado em outubro de 2020, sem licitação, para gerir 65 unidades de saúde nas regiões de Santo Amaro e Cidade Ademar. Inicialmente válido por seis meses, o contrato foi renovado diversas vezes, acumulando mais de R$ 960 milhões em repasses desde janeiro de 2024. O último termo aditivo foi assinado em março pelo próprio Zamarco — que também presta serviços ao INTS por meio de sua empresa, a Luma Serviços Médicos.
Essa empresa é subcontratada para coordenar a UTI Neonatal do Hospital e Maternidade de Suzano, recebendo, segundo apuração, ao menos R$ 325 mil por mês. Embora a prefeitura de Suzano afirme que a contratação é anterior à entrada do INTS na gestão hospitalar, o vínculo atual levanta suspeitas de favorecimento, já que o secretário municipal de Saúde de São Paulo atua, simultaneamente, em contratos na capital e na Grande São Paulo.
Outro caso que chama atenção envolve a Global Med, empresa do filho do ex-secretário de Saúde de Mogi das Cruzes, Francisco Moacir Bezerra (conhecido como Chico Bezerra). A empresa gerencia equipes médicas em unidades de saúde geridas pelo INTS em ao menos quatro municípios, mesmo após pai e filho terem sido condenados por corrupção e organização criminosa a quase sete anos de prisão.
Em 2020, enquanto Chico Bezerra ainda tinha influência política local, o INTS firmou contratos com a prefeitura de Mogi para gerenciar a UPA Oropó e o Samu, pelos quais recebe cerca de R$ 3,5 milhões mensais. Na época, Chico já era alvo do Ministério Público por um suposto esquema de aprovação de leis em troca de vantagens pessoais — e mesmo assim a empresa de seu filho foi escolhida como subcontratada.
As suspeitas sobre o INTS não se limitam ao estado de São Paulo. Em junho, a organização foi alvo de uma operação conjunta da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) por suspeita de fraudes e superfaturamento em Salvador, na Bahia. Segundo as investigações, entre 2013 e 2020, os contratos da instituição geraram prejuízos superiores a R$ 46 milhões aos cofres públicos.
A operação resultou no bloqueio de R$ 100 milhões em bens e no afastamento de servidores públicos da capital baiana. Embora o INTS alegue que a investigação se refere a um servidor da prefeitura, o instituto está diretamente envolvido nos contratos questionados.
Em nota, o INTS afirma que todos os seus contratos passam por prestação de contas regular a órgãos de fiscalização e que, em 15 anos de atuação, nenhuma de suas contas foi reprovada. Sobre a Luma Serviços Médicos e a Global Med, o instituto alegou que ambas as contratações seguiram os trâmites legais previstos em seu regulamento interno.
Já a Prefeitura de Suzano defende a regularidade da contratação da empresa de Zamarco, justificando que o vínculo é anterior à atuação do INTS na cidade. A gestão municipal de Mogi das Cruzes, por sua vez, afirmou que os contratos foram firmados durante a administração anterior e estão sendo reavaliados.
A atuação do INTS expõe um sistema de gestão da saúde pública que se apoia em relações políticas e interesses privados. A subcontratação de empresas ligadas a figuras públicas levanta questionamentos não apenas sobre a legalidade dos contratos, mas sobre a qualidade dos serviços prestados à população e o uso adequado dos recursos públicos.
Em meio à judicialização de contratos, investigações da PF e vínculos políticos obscuros, o caso do INTS escancara mais um capítulo das fragilidades no modelo de gestão terceirizada do SUS — e reforça a necessidade de mais controle, transparência e responsabilização no setor.